O anúncio de Final Fantasy 7 Remake deixou os fãs do clássico do Playstation em polvorosa. Porém, pouco tempo depois a Square Enix confirmou que haveriam mudanças de gameplay no jogo, para adaptá-lo à realidade atual dos RPGs – e isso causou uma onda de frustração em parte desses mesmos fãs.
É como se a popularização da obra diminuísse sua qualidade
Talvez a Square Enix esteja trabalhando um jogo para um mercado que compõe não só os fãs do original, como também um novo público – muitos desses não eram sequer nascidos quando FF VII foi lançado, em 1997. Sendo assim, essa nova audiência seria muito importante, assim como a antiga – e uma não teria mais direito ao jogo do que a outra.
O caso de FFVII serve para ilustrar uma situação comum. Com o relançamento do título surgirá uma nova leva de adoradores da obra. Alguns dos fãs antigos ficarão mordidos com esse surto de popularidade, e deles sairá o famoso:
Eu já gostava disso há muito tempo!
A sensação de que se você chegou a apreciar uma obra antes de outras pessoas isso implica necessariamente que você é melhor e sempre estará certo em uma discussão com pessoas que a tenham conhecido depois de você. Em alguns casos mais extremos, o fã passa até a não gostar mais tanto da obra caso muitas pessoas passem a conhecê-la depois. É como se a popularização da obra diminuísse sua qualidade, mesmo sendo o mesmo conteúdo que você apreciou quando viu no começo: a diferença é que agora mais pessoas também apreciam.
Quem é nascido na década de 80 ou começo dos anos 90 lembra o quão difícil era encontrar alguém que compartilhava dos seus gostos por jogos, quadrinhos, rpgs e algumas outras temáticas. Ao saber de algum amigo de amigo que também lia o Homem-Aranha, jogava D&D ou era fã de Shining Force II, as possibilidades de boas conversas eram tantas que você não podia fazer outra coisa senão abrir um sorriso de orelha a orelha. Isso sem falar na perseguição que alguns sofriam na escola por demonstrarem interesse nesses temas.
Posso confessar que eu mesmo escondia grande parte dos meus interesses por considerar que se eles viessem à tona meu street cred na escola iria diminuir (como se fosse lá grande coisa, mas ~adolescência~).
Hoje em dia, felizmente, esses assuntos ficaram mais populares e é bem mais fácil achar alguém para conversar, discutir teorias, possibilidades e trocar boas histórias. Às vezes me pego pensando que esse protecionismo com relação à novos fãs tem algo a ver com o fato de que eles não passaram por um momento onde gostar daquilo não era tão fácil – quase como se eles não fossem dignos.
Um segundo suspeito é a sensação de “mais pessoas gostando daquilo que eu gosto vai me tornar menos especial”. Esquisito, né? Lendo assim – de forma tão brusca – parece tão bobo quanto é. Infelizmente, muita gente parece pensar assim. Em busca de identidade, as pessoas tentam vincular obras à suas próprias imagens. É quando aquele seu amigo que é conhecido como o maior fã de Senhor dos Anéis e, com o lançamento dos filmes, vê que esse status passa a ser compartilhado por muito mais pessoas dentro e fora do seu círculo social. Aquilo que o destacava passa a ser lugar-comum, e antigo fã passa a descontar nos novos – que nada tem a ver com isso.
Lição de moral do He-Man
Amigos e amigas, vamos relembrar da felicidade que era encontrar pessoas com gostos similares, da sensação de que temos tanto a falar em tão pouco tempo disponível. De discutir quem você acha que deveria ser escalado como o novo Homem-Aranha, de como você acha que deveria ser feito uma sequência de Chrono Trigger, e todos os mil assuntos tão interessantes que nós vivenciamos todos os dias curtindo videogames, filmes, séries e afins.
Ter sua obra favorita mais popularizada deve ser motivo de orgulho, pois mais pessoas terão acesso à ela, os responsáveis terão mais reconhecimento (se a obra é boa, eles certamente merecem, não?), mais sucesso e mais estímulo para fazer mais projetos tão bons quanto – como a fanpage do Sense8 soube comunicar com maestria. Vamos espalhar amor!